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quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

Rezar é muito mais escutar a Deus do que falar

Quem já não ouviu a célebre definição Orar é falar com Deus? Conversando sobre o assunto com o Bispo Auxiliar Dom Wilson Tadeu, responsável pela formação dos seminaristas na Arquidiocese do Rio de Janeiro, ouvi, emocionada, o que ele acha ser o mais importante na prática da oração: “É preciso, primeiramente, ter sempre em mente que Deus se relaciona comigo e que eu tenho todas as condições de entendê-Lo e de falar com Ele”, disse.


Além disso, destaca o Bispo, é necessário saber que neste relacionamento com Deus “eu sou criatura dEle e, por isso, relacionar-se com Ele não é escolha minha. Então, a presença de Deus na minha vida é necessária para eu me entender como pessoa, gostar da minha vida e estar bem comigo mesmo. E Deus sempre se antecipa a nós. Quando eu tenho vontade de fazer o bem, não é apenas uma coisa que simplesmente nasce de mim, é uma reação à iniciativa de Deus. Quando começo a olhar a realidade desta forma, vejo em tudo momento de orar e agradecer a Deus. Isso modifica a forma como me relaciono com todas as coisas”.

Mas como fazer isso? Afinal, não existem escolas ou mestrados em oração. Ninguém recebe o diploma na arte de dialogar e amar a Deus sobre todas as coisas. De fato, este é um caminho que se faz ao longo de toda a vida, sempre com o perigo de voltar atrás. A oração, assim, é uma atividade fácil e difícil ao mesmo tempo. É preciso conscientizar-se de sua importância e levar a sério o exercício de rezar, não aleatoriamente, de vez em quando, quando se sente bem, ou se tem necessidade, mas sempre. É Jesus quem recorda estes princípios básicos: “Rezai sem cessar para não cairdes em tentação” (Mt 26,41). O apóstolo Paulo repete como um eco as mesmas palavras do Mestre: “Orai sem cessar” (1Ts 5,17).

“Orar, para muitos, é difícil porque é necessário conciliar a rotina diária com a necessidade de se aprofundar na oração. Mas necessitamos encontrar, durante o nosso dia, tempo para as coisas importantes. Se orar é importante, e eu penso que é, então antes do trabalho tenho que reservar um momento do meu dia, e em todos os dias, para a oração. Quando eu tenho um momento de oração, ele vai perpassando toda a minha vida. Falo a partir de minha experiência pessoal: temos que ter um momento para oração, em que nos sirvamos de uma leitura espiritual, do terço, da Palavra de Deus. Proponho que se leia um trecho do Evangelho e se faça um momento de reflexão, para, depois, se iniciarem as tarefas do dia. Quem não faz isso não tem vida de oração; só se têm momentos de oração, e não é isso que a Igreja nos propõe”, ensina Dom Wilson.

Uma determinada determinação
Iniciar o caminho da oração é ter uma “determinada determinação”, como afirmou Santa Teresa de Ávila. Essa determinação não pode ser colocada em discussão por nada. Não importam os gostos, as consolações. “A minha única consolação é não ter consolação”, escreve Santa Teresinha do Menino Jesus. A oração não pode faltar na vida de um cristão. É ela que o levará a uma harmonia interior. “Não há jeito de ser cristão e não rezar, porque ser cristão é estar unido a Cristo, orientar a sua vida para Cristo. É desta forma que vou entender o que a vida humana é, no concreto. Se a dimensão oracional não existe, a minha vida é ‘qualquer coisa’. Então, o ser orante, o ser uma pessoa de oração é fundamental. A oração é justamente a expressão de agradecimento diante daquilo que Deus realiza”, pontuou o Bispo Auxiliar do Rio.
A oração como caminho para Deus

A oração não é, portanto, meta, é simplesmente caminho para se chegar a Deus. Não se pode transformar os meios em fins. A oração se faz necessária para poder dialogar com Deus e conhecê-Lo melhor. É pelo caminho da oração que se vai chegando à nascente. Santa Teresa de Ávila, mestra de oração, desde sua infância, em formas diferentes, coloca um ideal diante de si: “Quero ver Deus”. E será esta profunda convicção e desejo que vão orientar toda a sua vida. Tudo renuncia, de tudo se despoja, tudo abandona. Nada que possa ser obstáculo ao seu encontro com Deus teve direito de estar presente em sua vida. “Nunca somos tão completos, tão inteiros, tão humanos, em todas as dimensões, do que quando nos colocamos diante de Deus. Então, devemos nos dar por inteiro: dar nosso sofrimento e até mesmo a nossa dificuldade em rezar. Precisamos elevar tudo isso a Deus, que irá iluminar essa realidade. A oração a Deus não deve ser entendida como algo que nos tira do mundo, da vida”, frisou Dom Wilson

O que não é orar?

O principal erro cometido pelos leigos em relação à oração está relacionado com a forma com que conduzem o seu diálogo com Deus. Para evitar esse equívoco, segundo o Bispo, “é necessário que se tenha em mente que não somos deuses, mas sim criaturas de Deus. Às vezes queremos colocar Deus a nosso serviço. O papel da oração é nos colocar na perspectiva de Deus. Rezar para ganhar favores e privilégios não é orar. Quem faz isso não entendeu o que é oração. É como se pensassem que Deus é um grande Senhor, meio caprichoso, que precisa receber um agradozinho para soltar algum presentinho. Esta visão estraga tudo”.

O relacionamento com Deus, pela oração, traz ao orante uma perspectiva nova. Afinal, Ele não desiste da humanidade, sua criatura, mesmo quando ela erra. “Quando damos uma abertura a Deus, Ele vem a nós e põe ordem na nossa vida. Isso constrói o ser humano, nos dá a razão de viver. Quando ficamos só pedindo coisas, ficamos parados em nós mesmos, no mesmo ponto”.
Silêncio é escutar Deus

E se queremos ter uma vida de oração, um aspecto se faz importantíssimo: o silêncio. “Ele é importante porque entra naquela perspectiva da disciplina, na qual eu tenho que dedicar um tempo para oração. No silêncio poderemos ouvir a Deus e poderemos ouvir a nós mesmos. A mística nos diz que aquele que quer encontrar Deus deve entrar dentro de si mesmo, e isso só será possível no silêncio”, esclareceu Dom Wilson.

Para o Bispo, o silêncio hoje é uma das “pedras de toque” do homem moderno: uma das armas que ele tem para não ser engolido pelo mundo, que invade agressivamente a sua vida. “Não podemos perder a noção de que o silêncio mais importante é o interior. Por isso devemos nos colocar na presença de Deus sem aquela inquietação interior, sem as preocupações do dia-a-dia e sentimentos como raiva e apelos sexuais. Rezar é muito mais escutar Deus do que falar e isso só é possível pelo silêncio”, frisou.

Fonte: www.comshalom.org

Um comentário:

Flávio Bueno disse...

é longo mais vale a pena ler!!!