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segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Qual o legado da crise com os pedófilos na Igreja?

No século XVI no auge do poder dos Papas renascentistas em Roma envoltos em escândalos de toda ordem, surgiu um clamor em toda a Igreja de “reforma na cabeça e nos membros”. Esse clamor vinha dos leigos, do baixo clero e dos teólogos como Lutero, Zwinglio e outros. Em resposta veio a Contra-Reforma que transformou a Igreja Católica num baluarte contra o movimento dos Reformadores, enrijecendo ainda mais suas estruturas de poder.

Agora o escândalo dos padres pedófilos em vários paises católicos fez com que surgisse também um vigoroso clamor por reformas estruturais na Igreja. Ele não vem apenas de baixo como no tempo da Reforma, mas principalmente de cima, de cardeais e bispos. Primeiramente, este pecado e este crime gerou uma desastrosa gestão do Vaticano. Inicialmente tentou-se desqualificar os fatos como “fofocas mediáticas”, depois procurou-se ocultá-los, usando até o “sigilo pontifício” a pretexto de salvaguardar a presumida santidade intrínseca da Igreja, em seguida, minizaram-se os fatos, ou criou-se o factóide de um complô de obscuras forças laicistas contra a Igreja e por fim, face à impossibilidade de qualquer via de desculpa e de fuga, a verdade incômoda veio à tona.

O Papa tomou medidas severas contra os pedófilos, consideradas insuficientes por muitos da própria Igreja. Pois, não basta a “tolerância zero” e as punições canônicas e civis. Tudo isso vem a posteriori, depois de cometido o delito. Nada se diz como evitar que tais escândalos se repitam e que reformas introduzir na vivência do celibato e na educação dos candidatos ao sacerdócio. Não se coloca como prioritária a salvaguarda das vítimas inocentes, muitas delas revelando um tenebroso vazio espiritual, fruto da traição que sentiram da Igreja, num misto de culpa e de vergonha.

Em seguida, as altas autoridades fizeram-se mutuamente graves acusações. O Card. Cristoph Schönborn de Viena acusou o Cardeal Angelo Sodano, quando era Secretário de Estado (o primeiro posto depois do Papa) de ter ocultado a pedofiia de seu antecessor na sede, o Card. Hans-Herrman Groër. Bispos alemães criticaram a conferência episcopal de não ter sido suficientemente vigilante face aos notórios abusos sexuais do bispo de Ausgburg Walter Mixa, obrigado a renunciar. O mesmo refere-se ao bispo de Bruges da Bélgica que abusou por 8 anos de um seu sobrinho.

Impactante é a autocrítca feita pelo arcebispo de Camberra Mark Coleridge, reconhecendo que a moral da Igreja concernente ao corpo e à sexualidade é rígida e de estilo jansenista, criando nos seminaristas uma “imaturidade institucionalizada”, além da tendência à discreção e ao segredo face aos delitos, para manter o bom nome da Igreja, fruto de um hipócrita triunfalismo. O primaz da Irlanda Diarmuid Martin se perguntou sinceramente pelo futuro da Igreja em seu pais, tal o número de pedófilos nas instituições e por muitos e longos anos. Reconhece que reformas são urgentes, pois, a Igreja “não pode ficar aprisionada em seu passado” mas deve introduzir mudanças fundamentais em sua estrutura que impeçam tais desvios. Talvez o documento mais lúcido e corajoso veio do bispo auxiliar de Camberra, Pat Power. Este cobra “uma necessária reforma sistêmica e total das estruturas da Igreja”. Afirma que “na condução da Igreja, toda masculina, não reside toda a sabedoria mas que ela deve ouvir a voz dos fiéis”. Com coragem reconhece que “se as mulheres tivessem mais poder de decisão, não chegaríamos à crise atual”.

Poderíamos aduzir outras vozes de altas autoridades eclesiásaticas. Mas o importante é constatar que este escândalo que afetou o capital de ética e de confiança da Igreja-instituição, paradoxalmente deixou um legado positivo: suscitou a questão das reformas de base, aprovadas pelo Concílio Vaticano II. Estas, porém, foram boicotadas pela Cúria vaticana e pelos dois últimos Papas que se alinharam à uma visão conservadora e contrária à toda modernidade.

Os que amamos a Igreja com suas luzes e sombras, queremos entender a atual crise como uma oportunidade suscitada pelo Espírito para que a Igreja-instituição, realmente, encontre a forma melhor de transmitir a boa-nova de Jesus e ajude a humanidade a enfrentar uma crise ainda maior, aquela do sistema-vida e do sistema-Terra, terrivelmente ameaçados.

Leonardo Boff é autor de Igreja: carisma e poder, Record 2009

4 comentários:

Fabricio Panhan disse...

Caro Flávio,

Leonardo Boff é um herege excomungado ele não merece nem ser citado em seu blog, quanto mais ter um artigo publicado.

Você sabe quais são os verdadeiros números da pedofilia no mundo?

“Em artigo recente, o conhecido sociólogo italiano Massimo Introvigne mostrou que:

1)-Num período de várias décadas, apenas cem sacerdotes foram denunciados e condenados na Itália, enquanto seis mil professores de educação física sofriam condenação pelo mesmo delito.

2)-Na Alemanha, desde 1995, existiram 210 mil denúncias de abusos. Desses 210 mil, 300 estavam ligadas ao clero, menos de 0,2%.

3)-Por que só nos ocupamos das 300 denúncias contra Igreja? E as outras 209 mil denúncias? Trata-se, de um escândalo seletivo” ???...

4)-Vamos condenar pedofilia energicamente, especialmente dentro da Igreja, mas vamos manter as coisas na perspectiva correta.

5)-“O número de delitos ocorridos é muitíssimo menor entre padres católicos do que em qualquer outra comunidade”, como diz Carlos Alberto no mesmo artigo.Mesmo assim, totalmente abominável...”

Fonte: Carlos Alberto Di Franco no “A TARDE” de – 03 de maio de 2010, página A2.

Por Favor

Tenha cuidado no que publica! Não dissemine hereges!

Flávio Bueno disse...

Bom Fabrício...

Você manifestou a sua opinião correto!!!

Então vamos a minha....

Primeiro... aquele que para ti é um herege pra mim é uma das principais mentes intelectuais tanto do catolicismo como em âmbito geral.

Vamos ao conceito de herege: Segundo o dicionário Aurélio herege significa Heresia (do latim haerĕsis, por sua vez do grego αἵρεσις, "escolha" ou "opção") é a doutrina ou linha de pensamento contrária ou diferente de um credo ou sistema de um ou mais credos religiosos que pressuponha(m) um sistema doutrinal organizado ou ortodoxo.

Pelo o que me consta amigo Fabrício este não é o conceito que o vaticano deu ao Leonardo Boff, diga-se de passagem ex-aluno e amigo particular de Joseph Ratinzeger (Bento XVI).

Leonardo Boff, Frei Beto, Dom Cláudio Humis (atual secretário papal) são considerados marcos para igreja brasileira, pois lutaram bravamente contra a ditadura e os abusos dos militares neste país, e dentre outros projetos colocaram a igreja brasileira na rota das questões sociais, como na criação de movimentos sindicais, pastorais, dentre outros.

A expulsão de Leonardo Boff é considerado por muitos, principalmente, dentro do Vaticano como um ato indiscriminado e contraditório. Não se pode esquecer ainda, que o mesmo vem cumprindo de forma elegante e correta todas as sanções dadas a ele sobre o vaticano o que demonstra o seu respeito.

E como até hoje existe, toda instituição possui suas brigas políticas, suas alas, suas correntes ideológicas e mesmo sendo amigos particulares Boff e Ratinzeger não comungavam das mesmas ideais.

Ratinzeger é da ala conservadora, assim como vc meu amigo parece ser e respeito isso, todavia, não posso concordar com vc na acusação de heresia alguém q só possuia um conceito ideológico diferente e por isso foi punido. Msmo pq se temos hj essa configuração democrática neste país, se não vivemos em uma ditadura.. se damos força e condição ao trabalho e aos movimentos sociais ... foi pq caras como BOff lutaram bravamente contra isso... então acho q infelizmente é fundamental conhecer os motivos antes de acusar de herege um cara q fez tanto por nossos país e por nossa igreja aqui no Brasil.

No que se refere a pedofilia. estranho ainda mais a sua posição, pq o texto só destaca fatos, não tem nada inventado e tem mais. não é o meu papel esconde-los por ser católico, é justamente mostrá-lo pra ser e contribuir para a formação de católicos melhores.

A discussão, não é sobre pedofilia fora da igreja, q existe e por motivos lógicos, a quantidade é bem maior, vide o numero de professores e de padres, ou seja, seu argumento é falho. Outra coisa é q estamos falando de sacerdotes figuras chaves no conceito de liderança de uma comunidade em busca da fé??? o q agrava notavelmente esta discussão...

Caro Fabrício, ocultar fatos, na minha humilde opinião é disseminar a prevaricação da heresia...

Temos que lutar contra a pedofilia em todas as esferas, principalmente, dentro da Igreja...

Agradeço muito a sua opinião Fabrício, eu acho este debate muito válido e os números q vc trouxe são importantes inclusive para conscientizar sobre os perigos da pedofilia nas escolas, nas familias. Eu como professor e formador de opinião acho fundamental este debate. Perdão apenas por discordar sobre a sua visão acerca do Leonardo Boff, não se pode chamar de herege um cara que já fez tanto por nossa Igreja e por nosso país!!!!

Muito Obrigado

Thiago disse...

Flávio tu é meio maluco né???? kkkkkkkk

Mas, esse, de fato é um assunto delicado....

q tem ganho mmuitas notícias nos ultimos tempos....

mas, q precisa ser tratado com responsabilidade... até acho q o Boff não pegou pesado, como muitos tem feito e as vezes até com inteira razão;;;

não podemos nos omitir galera.....

temos q falar sim sobre esse assunto...

e concordo com o Flávio.... se pensar é ser herege, se promover a intelectualidade e a justiça é ser herege...

cá estou eu assumindo então minha veia herege

Leandro disse...

Gostei dos dados do Fabrício, mas concordo com o Flávio.. não acho o Leonardo Boff um herege...

acho sim q ele é um grande pensador, inclusive da nossa igreja...

qnto a pedofilia..

acho q temos q lutar... de todas as formas, para combate-la

inclusive dentro da igreja...

e tem mais... o cuidado tem q ser redobrado pq as vezes pensamos q só padre comete estas paradas e não é só padre......

tem catequista, coordenador de num sei o q...

ou seja..

onde há o ser humano

abs