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terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Onde estão nossos heróis?

Onde estão nossos “heróis”? Quem nós admiramos? É moda, o ato de
escutar inúmeros elogios dados a algum artista que por ventura venha a
falecer. Depois do “turn off” da vida, aqueles que percorrem os corredores dos
meios de comunicação e das colunas sociais se tornam pessoas diferenciadas
e capazes de deixar um legado intenso. Quanta transmutação!

Eu queria aprender como se faz para enxergar um “herói” nato. Um
“herói” que surge sem a necessidade de maquiagem ou de bajulação pautada
na dualidade: ser narcísico (herói artificial) e seguidores com padrão adulador.

Onde encontrar um “herói” que não seja um artista global ou um cantor de rock
ou um integrante de qualquer grupo de pagode ou um cantor sertanejo ou um
jogador de futebol? Um “herói” cuja construção de vida não é cantar, atuar ou
fazer gols. Onde eles estão? Falo de “heróis” em que a dignidade e o
humanismo prevaleçam. Talvez, eles até existam, mas não dão pontos
elevados de audiência ou como se fala numa gíria popular, não dão “IBOPE”.

Talvez, eles estejam em cantos longínquos e esquecidos por todos ou quem
sabe pertinho de você e ninguém notou, pois os olhos estão vidrados na tela da
TV para admirar quem não deve ser admirado. Talvez, estes verdadeiros
“heróis” lutem sozinhos na busca de um bem maior. Isto lá é importante! É
melhor mostrar alguns Obamas e Justin Biebers. O show business deve
prevalecer a todo custo. Que louco! Os “heróis” estão aparecendo na “dança
dos famosos”, no “Big Brother”, nas “novelas melosas” e nos “eventos
esportivos”. É muito sofrimento ter que acreditar que muitos acreditam nestes
supostos “heróis”. Desculpem o trocadilho, mas é isto mesmo. Seria uma
anencefalia social?!

Quando Henry Miller pontua “que o verdadeiro líder (herói) não tem a
necessidade de liderar, pois ele se contenta em apontar o caminho”, nós
podemos compreender um pouco melhor a correta percepção sobre liderança e
heroísmo. Olhe ao redor, mas não muito distante. Está aí, pertinho de você.

Olhe o seu pai e a sua mãe no quarto ao lado ou na lembrança da casa que
você chegou a morar junto deles. Se eles não estiverem vivos, não tem
problemas. Feche os olhos. Você conseguirá vê-los como se eles estivessem
ao seu lado sorrindo para você. Sinta o cheiro deles. Sinta o olhar deles.

Escute a voz ora suave ora truculenta deles. Perceba que a truculência poderia
representar proteção, preocupação e amor. Retorne a infância. Eles estão te
empurrando no balanço. Aquele mesmo que você adorava ir e que só fazia
sentido se eles fossem. Aproveite para mergulhar mais e mais nas suas
lembranças e note como eles ficavam desesperados na sua primeira febre, no
seu primeiro ferimento que sangrou e na primeira vez que chorou agudamente
em face de uma decepção. Recorde, como eles te abraçavam. Como eles te
beijavam. Como eles te cheiravam. Lembre mais um pouco, pois você
visualizará, novamente, a lágrima correndo na face deles sempre que você
estava entristecido. Por eles, seria possível extirpar a sua dor e introduzir
automaticamente neles. Assim não doeria nada em você. Se você se esforçar,
vai lembrar que tentavam de tudo e fomentavam o que podia na tentativa de
você alcançar seus sonhos. Agite um pouquinho seu hipocampo e reviva as
discussões. Muitas delas, mesmo que você se sentisse incomodado, estavam
contaminadas de boa vontade. Aproveite este momento onírico e veja como
eles estavam contigo na adolescência, inclusive superavam a sua
impulsividade e irritabilidade “hormonalmente” poderosa. Certamente, eles
vibravam com sua aprovação em vestibulares ou com o fim de outros ciclos.

Eles se angustiavam com as suas decepções amorosas e vibravam quando
você descobriu o seu verdadeiro amor. No quarto deles, eles pensavam em
você. Eles sentiam a sua ausência. Eles se atormentavam com sua angústia.

Lá no fundo do baú da sua mente, você poderá enxergar “broncas” e atitudes
mais coercitivas no intuito de alertar sobre suas escolhas e caminhos. Não tem
problemas, pois o baú mental do lado está repleto de amor, paixão, admiração,
devoção e satisfação de ter tido você e convivido contigo. Uma das
recordações mais intensas é quando você saiu de casa. Não sei se para morar
na rua ao lado ou em outra cidade ou em outro estado ou em outro país, porém
é nítido e parece que você ver a cena ao vivo agora. Lembra, ambos aos
prantos disseram com o coração em pedaços – “boa sorte e seja bem feliz meu
filho (a)”. Os cabelos deles foram embranquecendo ou ficando mais mirrados,
todavia o mesmo sorriso esteve, sempre, estampado no rosto deles ao te ver.

Lembra do sorriso deles no parque junto de você no “balancinho” que você
amava, pois bem é o mesmo sorriso e com a mesma comoção, embora
modificado pela redução do colágeno da pele. Agora, por certo, eles adoram
ver os netinhos num ciclo repetido, mas com algumas diferenças. O almoço do
domingo é mais cheio e barulhento, no entanto muito gostoso. Eu não sei em
que estágio, leitor, você está agora, mas não tem problemas, pois, se você
ainda não vivenciou ainda todas estas fases, vivenciará. Eu garanto! E se seu
pai ou sua mãe já não estão neste plano, reitero para não se martirizar, haja
vista, que as lembranças os manterão sempre muito vivos. Lembre que o
mestre Rubem Alves nos regozija ao dizer que “a saudade é a nossa alma
dizendo para onde ela quer voltar”.


Pois bem, os verdadeiros heróis são eles, ou seja, seu pai e sua mãe.

Eles, sim, fizeram tudo sem a necessidade de receber ou a necessidade de ser
dito que fizeram. Eles fizeram e para alguns ainda fazem somente pelo impulso
motriz do amor. Amor este que aparece de forma sincera e sem desejos
revoltos. Seus heróis são eles. Grandes heróis! Não é possível dimensionar a
grandeza das batalhas travadas cotidianamente por eles, somente, para te
proteger. Somente para te ver crescer e viver da forma mais feliz possível.

Termino como muitas salvas de tudo do que é de bom neste mundo para os
nossos heróis.

Por: Dr. Régis Eric Maia Barros

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