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quinta-feira, 22 de julho de 2004

CINEMA? TÁ CARO!

A grande sensação nos cinemas da cidade continua sendo o Homem-Aranha 2. O filme ocupa mais de dez salas e se mantém na liderança entre os mais vistos no Brasil no período. Apesar disso, é mais do que seguro dizer que a maioria absoluta dos brasileiros não vai ter a chance de ver nem o trailler dessa mega-produção. Não é pra menos, afinal, com a inteira custando mais de R$10,00 nas bilheterias das principais redes, só a estreita elite nacional tem condições de se presentear com esse luxo.

Durante a semana, esse que vos escreve percebeu que a indignação é geral ao receber diversas vezes uma corrente de e-mail pedindo a todos que se abstenham da tela grande no dia 1º de agosto, como protesto contra os preços altos. Para piorar a situação, a rede Severiano Ribeiro decidiu acabar com a promoção de ingressos mais baratos até às 17h durante a semana. O aumento foi de quase 50%, o ingresso passou para R$ 10,00 na rede, custando R$ 12,00 após às 17h. O aumento também se estendeu para as quartas-feiras, tradicionalmente mais baratas, agora só R$ 2,00 mais econômicas do que o resto da semana.

Mas o aumento não se limita à rede Severiano. No Cinemark do Píer 21 a situação é quase a mesma. O ingresso custa R$ 9,00 antes das 17h e R$ 11,00 depois. Quem gosta do escurinho do cinema não deixa de se espantar com o preço do ingresso. Uma família comum, com dois filhos, paga cerca de R$ 40,00 por uma sessão no sábado a tarde. Isso sem contar a pipoca e o refrigerante, que no caso Cinemark estão disponíveis somente em tamanhos gigantes, facilmente acrescentando mais alguns tostões à conta. Parece que um protesto vem, realmente, bem a calhar.

Marco Farani, dono do elegante Cine Academia, onde os ingressos custam R$ 12,00 de segunda a quinta e R$ 14,00 durante os fins de semana, defende as salas de cinema da pecha de vilões – “não é caro só em Brasília, é no Brasil inteiro”. Segundo o empresário, as causas do preço alto são várias, e vão desde a predominância de produções estrangeiras na programação (no ano passado, considerado o marco da reação do cinema nacional, cerca de 80% da bilheteria total dos cinemas brasileiros foi de filmes de fora), até ecos da reestruturação do mercado, oriundos da década de oitenta.

Naquela época, os filmes nacionais dominavam o circuito e havia algo em torno de 3.000 salas de cinema no país, muitas delas cinemas populares, com ingressos mais em conta, um número bem mais expressivo do que as 1.800 existentes hoje. Pois é, pode não parecer, mas a era do multiplex rendeu frutos mais minguados, em matéria de público pagante, do que a época dourada do cinema tupiniquim. Sabe disso quem viaja pelo interior do país e assiste as cidades pequenas fecharem as portas de seus tradicionais cinemas uma a uma, a maioria para virar igreja.

Na época, o grande culpado pela derrocada foi o agora ultrapassado vídeo-cassete, protagonista de uma revolução tecnológica que atingiu como uma bomba o cinema brasileiro. Hoje, é cada vez maior o domínio dos grandes distribuidores de cinema, únicos capazes de arcar com os custos crescentes do negócio. A rede estadunidense Cinemark, por exemplo, contou com pesados investimentos para, em dez anos no país, superar a maior concorrente nacional, a já citada rede Severiano Ribeiro.

O que mais pesa nos custos é a desvalorização do real frente ao dólar, moeda em que são feitos os negócios no mundo do cinema. Do ingresso que você paga, entre 40 e 50% ficam com a sala, o resto vai para o produtor, quase sempre Hollywood. Como eles computam seus lucros em moeda forte, as bilheterias brasileiras acabam rendendo menos do que outras com quase o mesmo número de pagantes, como a italiana, que paga em euro.

Como quase tudo no Brasil, o que parece um problema simples se revela um emaranhado de causas e conseqüências. “Mas o público está aumentando”, salienta Farani, “acontece que, para aumentar a estrutura e, conseqüentemente, o público, às vezes é preciso aumentar o preço do ingresso”. Enquanto isso, cada vez menos filmes parecem dignos do ingresso que cobram, e enquanto o número de salas aumenta nos multiplex, a variedade só diminui. Graças ao apego dos grandes estúdios por fórmulas de sucesso, é normal que as 13 salas do Cinemark Píer 21, ou as 11 do Park Shopping estejam divididas entre cinco ou seis mega-produções, quase sempre filmes feitos sob medida para um público pré-adolescente.

Fica a esperança na retomada da produção nacional, fazendo com que o dinheiro fique aqui, que o público aumente e que, finalmente, o ingresso não pese tanto no bolso. Por enquanto, porém, triunfa a impressão de que a situação não vai mudar tão cedo.

Fonte: Candango.com.br

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