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quarta-feira, 5 de maio de 2010

Artigo: "Jesus, o pão da vida, e a atitude profética de Igreja"!!!

O coordenador da Comissão de Direitos Humanos e Justiça e Paz da Arquidiocese de Goiânia, Pedro Sérgio dos Santos, divulga artigo em que faz ligação do tema do Congresso Eucarístico Nacional com o compromisso cristão diante da realidade atual, principalmente a urgente questão do aborto em nosso país.Confira



Jesus, o pão da vida, e a atitude profética de Igreja

Uma reflexão em torno do XVI Congresso Eucarístico Nacional e a urgente questão do aborto


O Evangelho de São João, diferentemente dos outros três (sinóticos), não descreve a instituição da Eucaristia na Ceia Sagrada, porém, o texto apresentado por São João sobre Jesus-Eucarístico nos remete à profunda realidade do encontro histórico, material, real e espiritual do homem com o próprio Deus.


No Antigo Testamento, a figura de Deus para o homem de Israel era aquela do Deus inatingível, do Deus para o qual não se podia olhar, enxergar (E acrescentou: “Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaac, o Deus de Jacó”. Moisés cobriu o rosto, pois temia olhar para Deus. Ex 3,6). O processo revelatório aponta inicialmente para um Deus Criador; depois para um Deus da Lei, aquele que apresenta as tábuas com os mandamentos no deserto; posteriormente, pela boca dos profetas temos o Deus da Justiça que virá para punir os opressores do povo e vingar as injustiças em Israel.


Com Jesus, o processo revelatório objetivamente se completa quando o Verbo encarnado, o próprio Deus na figura do Filho, revela a grande e verdadeira face daquele que o enviou, do Deus Pai (Abá- papai- numa linguagem mais carinhosa). Jesus definitivamente mostra Deus Pai Misericordioso, clemente e compassivo, acima de tudo, o Deus da vida, que quer a vida de seus filhos e não a morte, demonstrando isso finalmente com a ressurreição de seu Filho.


Assim, em seu evangelho, São João nos apresenta a palavra de Jesus sobre o pão: “Jesus lhes disse: “Eu sou o pão da vida. Quem vem a mim não terá mais fome, e quem crê em mim nunca mais terá sede.” (Jo 6,35). Dessa forma, o Deus antes inatingível, para quem não se podia olhar , agora é visível, concreto. Ele se inseriu na historia do homem e permaneceu na história, posto que a cada dia o mistério eucarístico e pascal se renova em cada altar, em cada missa celebrada nos quatro cantos do planeta.


Este Deus da Vida, historicamente manifestado em Jesus, presente na Eucaristia e transcendente em sua ressurreição, é o motivo maior de nossa fé, como afirma São Pedro em seus escritos: “Bendito seja Deus, o Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Em sua grande misericórdia, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos, ele nos fez nascer de novo para uma esperança viva” (I Pd 1,3). Ele exige de nós que, vendo os fatos que se colocam agora na realidade do Brasil, possamos como Igreja julgá-los à luz da fé, da Sagrada Escritura e do Magistério e, assim, passemos à ação em prol da causa do Evangelho e dos mais pobres e mais fracos.


Neste ano, vivenciamos o XVI Congresso Eucarístico Nacional em Brasília, as eleições e a tramitação no Congresso Nacional de diversas propostas de leis contra a família, contra os mais fracos e os mais pobres, leis macabras até mesmo encobertas pelo manto dos propalados “Direitos Humanos”. Nesse sentido, não podemos nos omitir diante de tais projetos de leis que confrontam a forte expressão do Senhor Jesus na Eucaristia: Eu sou o Pão da Vida!


O Programa Nacional de Direitos Humanos 3 (PNDH 3), assinado pelo Presidente da República em 29 dezembro de 2009, através do Decreto Presidencial 7.037, aponta para certas situações que o atual governo considera como fatores de proteção dos Direitos Humanos, tais como legalização da prostituição, do casamento entre pessoas do mesmo sexo, e a legalização do aborto. O Governo Federal, com o PNDH 3, atende, assim, à ideia já defendida meses antes pelo governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, integrante da base aliada do governo, que, diante de toda a mídia, defendeu a legalização do aborto.


Sérgio Cabral indicou o aborto como uma prática saudável e eficaz de “higiene social”, ao se referir a esse delito como um instrumento para se evitar o avanço da criminalidade violenta, uma vez que a mulher pobre e favelada poderia, assim, impunemente e com apoio do Estado, se ver livre do filho que estivesse em seu ventre, evitando, desta forma, o nascimento de mais um bandido que, a curto prazo, estaria “tocando terror” nas ruas de nossas capitais. No pensamento do governador Sérgio Cabral, a eficácia da política de segurança pública passa necessariamente por matar o bandido antes que ele nasça. O feto já está pré-julgado, em outras palavras, filho de pobre, de negro favelado é bandido. Alguns meios de comunicação chegaram a adjetivar o ilustre governador de “Herodes do Rio de Janeiro”. E, ao assinar o PNDH 3, o presidente da República fez par com o senhor governador do Rio de Janeiro.


Matar as crianças no ventre da mãe é uma política correta de defesa dos Direitos Humanos? Legalizar e favorecer a prostituição é uma política correta de defesa dos Direitos Humanos? O Cristo Eucarístico, como o Pão da Vida, está presente nestes pobres e pequenos que são e serão massacrados com o aval de normas de “pseudodireitos humanos” editadas pelo atual Governo Federal.


Quantas meninas no Brasil e na América Latina são empurradas para a prostituição em razão da pobreza em que vivem? Quantas jovens ainda trocam o corpo por um prato de comida? São Mateus, no capítulo 25 de seu Evangelho não nos poupa do compromisso com o Cristo na pessoa do pequeno e do pobre: ”Perguntar-lhe-ão os justos: - Senhor, quando foi que te vimos com fome e te demos de comer, com sede e te demos de beber? Quando foi que te vimos peregrino e te acolhemos, nu e te vestimos? Quando foi que te vimos enfermo ou na prisão e te fomos visitar? Responderá o Rei: - Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizestes”.


Há alguém mais pequenino, mais fraco, mais desvalido, mais indefeso e mais carente de quem o proteja que o bebê ou o feto no ventre de sua mãe? E o que dizer das pobres meninas expostas à exploração sexual e predatória, ao comércio internacional de seus corpos e de suas vidas? Por que legalizar tais situações de morte sob a carapaça de proteção dos “Direitos Humanos” ditados por grupos ideológicos que não consideram a mensagem evangélica?


Tamanha é a desconsideração da mensagem da Boa Nova a todos os homens, que o PNDH 3 propõe ainda a retirada de qualquer objeto ou símbolo religioso das instituições publicas do país, desconhecendo e desrespeitando a presença cristã católica que está neste Brasil desde o seu descobrimento e que faz parte também da cultura de nosso povo, um povo de fé. Ao aceitar tal proposta, não haverá mais nenhum crucifixo em qualquer escola e mesmo a estátua do Cristo Redentor, que ocupa um espaço publico, deverá ser retirada...


A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condenou tais propostas do PNDH 3. Houve também manifestação das Regionais da CNBB em todo o país, bem como de diversas Igrejas particulares. O Congresso Eucarístico Nacional, em consonância com a fé e com o dever da propagação do Evangelho de Jesus, o Pão da Vida, o Filho morto e ressuscitado de Deus Pai, pode e deve tomar firme posição em defesa da vida de todo homem, idoso, adulto, criança ou ainda feto, e denunciar políticas públicas que venham a favorecer as injustiças contra os mais fracos e mais pobres.


Anunciar o Reino e denunciar as injustiças, e assim cumprir a missão profética da Igreja no século XXI, eis a nossa tarefa urgente, emergente e possível, pois estaremos sempre animados pelo Senhor ressuscitado e presente na Eucaristia, pão da unidade dos discípulos missionários.

Pedro Sérgio dos Santos
Coordenador da Comissão de Direitos Humanos e Justiça e Paz da
Arquidiocese de Goiânia

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