Scotus Erigena dizia que Deus é o super-ser, o super-existente. Afirmava que até a palavra “ser” era insuficiente para Deus. No seu entender, Deus é mais do que um “ser”. Em outras palavras, o substantivo “ser” ainda não o exemplifica. Da mesma forma que o ser do homem não pode ser comparado ao ser do animal porque está acima do ser do animal; e o ser do animal não se compara ao ser da pedra, porque está muito acima do ser da pedra, assim, o conceito do ser de Deus está infinitamente acima de qualquer ser. Não há como comparar. Ele não teve origem nem começo. É o único ser que verdadeiramente é, porque se basta. Nós, para sermos, precisamos de outros seres.
Por isso, anunciar Javé, aquele que é quem é, fazer filosofia e teologia. Trata-se de um termo filosófico que pretende lembrar que Deus é único. Nós derivamos. Nosso ser é limitado. Viemos depois e aqui, nunca seremos totalmente quem deveríamos ser. Faltará sempre alguma coisa. Pregar o “totalmente outro” e ao mesmo tempo “totalmente Ele mesmo” exige um mergulho mais profundo do que sair por aí dizendo que Deus falou conosco, ou que temos um recado dele para dar. Toda a humildade ainda é pouca diante da grandeza daquele de quem pretendemos ser porta-vozes.
O verbo “é” aplica-se com toda a propriedade a Deus; revela seu infinito. No nosso caso, o verbo “é” revela o nosso limite. Somos porque viemos daquele que é. Ele sempre foi, sempre “é” e sempre será. Nós nascemos e começamos a ser. Viemos infinitamente depois. Deus nunca nasceu. Por isso, quando Deus diz “eu sou”, não tem que explicar-se. Quando eu digo “eu sou”, tenho que explicar-me. É que não sou exatamente quem digo que sou. Pregar tais verdades supõe reflexão meditação leituras e o desejo de saber mais sobre o mistério de Deus antes, agora e eternamente, sem nós, em nós e conosco.
Pe. Zezinho
Pe. Zezinho
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