O Réquiem de Mozart, nos leva ao mesmo tempo, a amar intensamente as coisas da vida terrena como dons de Deus e a elevar-se acima delas, olhando serenamente a morte como a “chave” para atravessar a porta para a felicidade eterna. Foi o que disse o Papa Bento XVI após assistir a um concerto nesta terça-feira, 7, na residência Apostólica de Castel Gandolfo, cidade localizada a 30 quilômetros de Roma e onde passa o período de verão europeu.
O concerto foi oferecido pela Pontifícia Academia das Ciências no qual se interpretou a Missa de Réquiem em Ré menor K 626, de Wolfgang Amadeus Mozart, executada pela Orquestra de Pádua e do Vêneto, junto com o coral “Academia da Voz”, de Turim. Na conclusão da apresentação o Papa tomou a palavra dirigindo-se aos artistas e aos convidados presentes, e falou sobre Mozart.
“Toda vez que ouço suas músicas não deixo de retornar com a memória à igreja paroquial, quando criança, nos dias de festa, tocava uma de suas “Missas”, e no coração parecia que um raio de beleza do Céu tinha me atingido”, disse Bento XVI. “Essa sensação – continuou o Papa – eu a experimento cada vez que ouço essa grande meditação, dramática e serena, sobre a morte”.
O Papa, um amante da música clássica, explicou que “em Mozart tudo está em perfeita harmonia, cada nota, cada frase musical e não poderia ser diferente; inclusive os opostos se reconciliam e a “serenidade de Mozart” envolve tudo, em cada momento”. “Esse é um dom da graça de Deus, mas também é o fruto da vida de fé de Mozart que, especialmente na música sacra, consegue transpirar a luminosa resposta do amor divino, que dá esperança, mesmo quando a vida humana é dilacerada pelo sofrimento e pela morte”, acrescentou.
Bento XVI recordou a última carta de Mozart a seu pai moribundo em 4 de abril 1787, na qual ele diz: “Há vários anos tenho me familiarizado com esta amiga sincera e querida do homem (a morte), e a sua imagem não é terrível para mim, muitas vezes ela aparece muito tranqüilizadora e consoladora”. “Agradeço a Deus por me ter dado a oportunidade de reconhecer nela a chave para a felicidade”, disse o Papa lendo a carta de Mozart.
“Eu nunca durmo sem pensar que amanhã pode ser que eu não exista mais. Nem tão pouco as pessoas que me conhecem podem dizer que na companhia delas eu estou triste ou de mau humor. É por isso que agradeço ao meu Criador cada dia, e desejo com todo meu coração a mesma coisa a cada um dos meus semelhantes”, concluiu a carta de Mozart.
Para o Papa, este é um escrito que expressa a fé profunda e simples, que também emerge na grande oração do Réquiem “e nos conduz, ao mesmo tempo, a amar intensamente as coisas da vida terrena, como dons de Deus e a elevar-se acima delas, olhando serenamente a morte como a “chave” para cruzar a porta para a felicidade eterna”.
“O Réquiem de Mozart, concluiu Bento XVI, é uma elevada expressão de fé que conhece bem a tragédia da existência humana e não esconde os seus aspectos dramáticos e é, portanto, uma expressão de fé precisamente cristã, consciente de que toda a vida do homem está iluminada pelo amor de Deus”.
Ouça Réquiem de Mozart
Nenhum comentário:
Postar um comentário