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sábado, 23 de outubro de 2010

“O COBRADOR DE IMPOSTOS...BATIA NO PEITO, DIZENDO: MEU DEUS, TEM PIEDADE DE MIM QUE SOU PECADOR!” (Lc 18,13)

+ João Braz de Aviz
Arcebispo Metropolitano de Brasília


Na frente de Jesus estavam pessoas “que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros” (Lc 18,9). E esta a atitude que o Mestre quer corrigir com a parábola do fariseu e do cobrador de impostos. Os dois são pecadores embora só o cobrador de impostos reconhecesse sua condição. Os dois se dirigem a Deus através da experiência da oração, o fariseu, porém, para elogiar suas ações e julgar o outro, enquanto o cobrador de impostos para reconhecer seus próprios erros. Este último “nem se atrevia levantar os olhos para o céu; mas batia no peito” (Lc Lc 18,13) com sinceridade.

A justiça e a bondade religiosas do fariseu, que o faziam superar o roubo, a desonestidade, o adultério, a sonegação de impostos e o tornavam capaz de jejuar e pagar o dízimo, estavam manchadas de orgulho. Sua soberba o levou a tomar o lugar de Deus, único juiz. Além disso, ela o levou a destruir a segunda parte da Aliança que é o amor ao próximo, a fraternidade estabelecida por Deus para todos os homens. Ele negou esse ensinamento no momento em que condenou seu irmão cobrador de impostos.

Deste modo, o que se tinha por justo voltou para casa sem o perdão de Deus, enquanto o cobrador de impostos, cheio de pecados, alguns até públicos, voltou para casa justificado (cf Lc 18,10-14). Podemos tirar duas conclusões a esse respeito: só os humildes, os que reconhecem sua condição de pecadores, são acolhidos por Deus. De outro lado, não pode haver culto verdadeiro a Deus e observância correta da moral, sem a relação de misericórdia e de acolhida do outro como irmão.

O Filho de Deus agiu com humildade para nos trazer salvação. No momento em que a comunidade de Filipos manifestava algumas divisões, o apóstolo Paulo indicou a humilhação de Cristo Jesus como caminho para manter a unidade: “Tende em vós o mesmo sentimento de Cristo Jesus: Ele tinha a condição divina, e não considerou o ser igual a Deus como algo a que se apegar ciosamente. Mas esvaziou-se a si mesmo, e assumiu a condição de servo, tomando a semelhança humana” (Flp 2,5-7). Este “esvaziar-se de si mesmo”, próprio de Deus, faltou ao fariseu. Ele não se fez igual a Deus que é amor, mas praticou o bem para ser reconhecido como diferente e maior.

O livro do Eclesiástico nos assegura: “O Senhor é um juiz que não faz discriminação de pessoas” (Eclo 35,15b). Por isso, se o homem ou a mulher discriminam pessoas não agem como Deus, e Ele então não os justifica.

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