Caros irmãos e irmãs em Cristo, diante de tantas manifestações práticas de ateísmo, não lhes dá vontade de gritar aos indiferentes - junto com Jean Cau - que “se Deus não existe, não te vejo somente perdido, meu amigo, meu irmão, meu semelhante e meu próximo. Se Deus não existe, tu és para mim como excremento. Não passas, oh! homem, de um montão de excremento falante”. Reconheço que as palavras são duras, mas para fazer frente àqueles que negam a existência de Deus, é preciso repetir com o salmista que “é louco quem pensa que Deus não existe”. (Sl 14,1). Penso que, do céu, Deus nos diz com profunda tristeza: “Criei filhos e os enalteci e eles se rebelaram contra Mim”. (Is 1,2).
Infelizmente, temos que nos certificar de que “na gênese do ateísmo, puderam contribuir os crentes que nem sempre manifestaram de maneira adequada o rosto de Deus”. (Gaudium et spes, nº 19). Seja por preguiça ou por acomodação na fé, não testemunhamos que “Aquele que fez as estrelas das Plêiades e o Orion e transforma as trevas em manhã e, de noite, escure o dia, Aquele que reúne as águas do mar e as derrama pela face da terra, Seu nome é Senhor”. (Amós 5,8). Mas, por outro lado, sempre é tempo de se buscar uma maturidade na fé que nos leve a professar, junto com Tertuliano, que, “para saber quem é Deus, nós não nos inscrevemos na escola dos filósofos ou de Epicuro, mas na escola dos profetas e de Cristo”. (Adversus Marcionem, II, 16). Não é a filosofia e nem mesmo o tecnicismo que nos levarão a crer em Deus. Neste processo da descoberta de Deus, a inteligência é um precioso instrumento. Pela inteligência, podemos notar o equilíbrio da natureza e a perfeição do ser humano. A inteligência nos levará ao seguinte questionamento: Quem é o autor dessa perfeição? Pelo bom uso da inteligência, podemos detectar que “Deus é Deus!” (Dt 7,9). Esta revelação não é detectada apenas pelo uso da inteligência. No processo de revelação de Deus é vital saber contar com uma virtude inestimável, que nos é dada pelo próprio Deus, ou seja, a virtude teologal da fé. Com fé, pela manhã, podemos salmodiar: “Reconhecei que o Senhor é Deus. Ele nos fez e somos dele!”. (Sl 100,3). Com fé, no crepúsculo do dia, podemos salmodiar: “Deus é para nós refúgio e força, Auxílio sempre próximo nas tribulações. Por isso não tememos se a terra treme, se as montanhas se abismam no fundo do mar”. (Sl 46).
Dar testemunho de um Deus que é amor e misericórdia é a melhor resposta cristã a qualquer forma de ateísmo. Deus é Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo. Amparados na Santíssima Trindade, cumpriremos nossa missão de Igreja, bradando que “Deus não é apresentado na Bíblia como um Senhor impassível e implacável, nem como um ser obscuro e indecifrável, semelhante ao destino, contra cuja força misteriosa é inútil lutar. Ele manifesta-se, ao contrário, como uma Pessoa que ama as Suas criaturas, vigia sobre elas, segue-as no caminho da história e sofre pelas infidelidades com que muitas vezes o povo se opõe ao Seu amor misericordioso e paterno”. (Papa Bento XVI, “Audiência em 09 de novembro de 2005”). Impulsionados pelo Espírito Santo, temos que demonstrar, por meio de um testemunho coerente e autêntico, que vale a pena crer e aderir ao amor de Deus. Em união com o único e verdadeiro Deus, não somos mais escravos do mal, do temor e de nenhuma outra forma de angústia. O mal, o temor e as angústias são provenientes de uma adesão incompleta, e com muitas reservas, ao amor de Deus, pois “aqueles que abandonarão a Deus ficarão confusos”. (Jr 17,13). Afinal, nós sabemos que “não há alegria verdadeira e perene sem Deus. Quem procura Deus, encontra sempre a felicidade, mas nem sempre quem procura a felicidade encontra Deus”. (Homilia do Cardeal José Saraiva Martins em 17 de junho de 2002).
Cada século traz consigo novas heresias e novas formas de ateísmo. Temos várias comprovações históricas que testemunham que, todas as vezes que o homem nega o seu Criador, ele, ao mesmo tempo, presta um culto a si mesmo, exercendo a autolatria. “Os últimos dois séculos conheceram correntes de ateísmo que negaram Deus, em nome de uma pretensa autonomia absoluta do homem, da natureza ou da ciência”.(Papa João Paulo II, “Audiência em 14 de abril de 1999”). É fundamental que cada cristão professe, ininterruptamente, que ou o homem adora o único e verdadeiro Deus ou será sempre um idólatra. No início deste novo século, o ateísmo continua buscando espaço. Como bravos arautos do terceiro milênio, vamos buscar novas expressões e novos métodos e, utilizando as palavras de Tertuliano, vamos clamar que “é preciso crer num Deus único, Onipotente e Criador do mundo, e no Seu Filho, Jesus Cristo, que nasceu da Virgem Maria”. Ou ainda: “Ele nos fez, nós não nos fizemos por nós mesmos”. (Sl 100). Temos que aprender a ocupar o nosso devido lugar; afinal, somos criaturas e, se possuímos algum poder criador, este é exercido por mérito e concessão da bondade de Deus. Somos, acima de tudo, um precioso fruto do amor de Deus. Nossa existência é fruto de um pensamento amoroso do nosso Criador; em consequência, “se alguém pensa ser alguma coisa quando não é nada, engana-se a si mesmo!”. (Gl 6,3).
Para concluir, sinto a vontade de lhe dizer que devemos unir nossas forças na luta contra o ateísmo e no testemunho de que há um Deus que é um Eterno apaixonado pelo ser humano. Vamos juntos realizar essa missão, cantando, com júbilo: “É preciso crer que existe um Deus que te ama acima de qualquer coisa. De nada vale o homem sem a fé no seu Senhor. É semelhante a um corpo sem vida. (...) Vai correndo ao encontro do Pai. Ele espera ansioso por ti. Não desistas; dá um passo e verás, com os olhos da fé, que em tua vida tudo irá mudar. De coragem Ele vai te encher. Dará forças para continuar a caminhar. É somente pela força da fé que a vitória virá”.
Aloísio Parreiras
(Membro do Movimento de Emaús/Brasília)
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