+ Waldemar Passini Dalbello
Administrador Apostólico da Arquidiocese de Brasília
Eis o testemunho daquele que fora cego de nascença aos que estavam acostumados a vê-lo mendigando: “Fui, lavei-me e recobrei a vista” (Jo 9,11). E as perguntas se multiplicaram diante da presença-testemunho daquele que passou a ver após ter recebido lama nos olhos, feita com a saliva de Jesus, e se lavado na piscina de Siloé.
O evangelho do Quarto Domingo da Quaresma nos coloca diante de uma testemunha de Jesus, o Enviado de Deus. É-nos narrado mais que um milagre, mais que um prodígio realizado em um passado remoto. O que aconteceu com aquele homem foi por iniciativa primeira de Jesus. “Ao passar, ele viu um homem, cego de nascença” (Jo 9,1). Vivo no meio de nós, também nos vê, do mesmo modo como viu e possibilitou que a obra de Deus se manifestasse naquele homem. Ele, Jesus, vê nossa verdade mais profunda, singular, e nos toca com sua humanidade redentora.
Jesus fez mais que um milagre, insisto. Realizou um sinal capaz de comunicar a mesma graça aos que o acolhem como o acolheu aquele que era cego: na simplicidade da fé, na docilidade à sua palavra. Jesus disse ao cego, após ter aplicado lama sobre seus olhos: “Vai lavar-te na piscina de Siloé – que quer dizer ‘Enviado’ ” (Jo 1,7). O evangelista indica que o cego foi e se lavou. Onde mesmo se lavou? Purificou-se na obediência da fé, na docilidade à palavra do que afirma: “Enquanto é dia, temos que realizar as obras daquele que me enviou”. Jesus é o Enviado – Siloé – do Pai!
Aquele homem que vivia na noite encontrou a luz, passou a ver e não calou a verdade. Aliás, diante das perguntas que lhe são insistentemente propostas, ele aprofunda seu conhecimento de Jesus. Aos fariseus e a outros que o interrogavam, afirma sobre Jesus: “É um profeta” (Jo 9,17); “se não viesse de Deus, nada poderia fazer” (Jo 9,33). E diante da pergunta do próprio Jesus: “Crês no Filho do Homem? Respondeu ele: ‘Quem é, Senhor, para que eu nele creia?’ Jesus lhe disse: ‘Tu o vês, é quem fala contigo’. Exclamou ele: ‘Creio, Senhor!’ E prostrou-se diante dele” (Jo 9,35-37).
As perguntas que nos são propostas no cotidiano sobre a vida cristã, a vida na Igreja, são ocasiões preciosas para reconhecermos o bem que Jesus nos faz. E mais, são oportunidades para conhecermos melhor quem é Jesus, aprofundando nosso mergulho batismal nele, o Enviado. Tal conhecimento se dá na Igreja, de modo que a verdade da fé nos une a todos, diversamente das opiniões que, normalmente, ao invés de unir, dividem. A sociedade fragmentada em que vivemos espera o testemunho da unidade, da comunhão entre aqueles que creem. Há muitos irmãos e irmãs aprisionados no individualismo, e são tantas as vítimas da solidão. A comunidade-Igreja traz à luz a comunhão que Jesus oferece, nutrida esplendidamente pela participação na celebração eucarística no Dia do Senhor, o domingo, e demonstrada pela caridade nos encontros de cada dia da nova semana.
“Fui, alimentei-me, e me abri à comunhão!”.
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