segunda-feira, 29 de abril de 2024
sexta-feira, 19 de abril de 2024
ELABORADAS PELO EPISCOPADO BRASILEIRO DURANTE A 61ª AG CNBB, BISPOS DIVULGAM MENSAGENS AO POVO E AOS CATÓLICOS BRASILEIROS.
A Mensagem ao Povo Brasileiro, é “um texto em certo sentido longo”, segundo o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner, dada “a necessidade de abordarmos alguns elementos importantes”, pretende ser uma mensagem de esperança, de futuro, da realidade política e climática, que aborda as eleições que se aproximam, lembrando os 60 anos de início da Ditadura e incentivando a cuidar da Democracia e combater a violência no país e as guerras.
Dom Leonardo pediu a ajuda dos meios de comunicação para que essas mensagem cheguem e ajudem diante da situação de tensão, de conflitos e de muita violência que a sociedade brasileira vive, provocada pelas drogas, as facções e pelas as palavras. Trata, segundo dom Leonardo, de uma mensagem que faz um chamado à paz, também na floresta, para os povos indígenas, ameaçados pelo Marco Temporal.
Pela primeira vez se faz uma mensagem da Assembleia às comunidades católicas, enfatizou o arcebispo de São Paulo, cardeal Pedro Odilo Scherer, que trata da vida das comunidades. A mensagem inicia agradecendo “por tudo aquilo que de bom e belo existe para a missão”, por tudo o que é vivido e realizado nas comunidades. Igualmente o texto ressalta a santidade, com um número de “processos de beatificação e canonização como nunca houve antes”.
A carta dirige uma palavra de encorajamento sobre algumas questões, tendo como pano de fundo a sinodalidade: o diálogo, o respeito pelos outros, saber divergir sem brigar, insistindo em que “nossa fé não deve dividir, mas deve ser um elemento que ajuda a criar comunidade”.
A mensagem ressalta a necessária comunhão com o Papa e com os bispos e faz um convite a não desanimar diante das dificuldades presentes e à participação ativa na vida das comunidades e da sociedade. Finalmente, um chamado à preparação ao Jubileu 2025. De acordo com dom Odilo, trata-se de uma carta que pretende “encorajar, orientar, apoiar, respaldar a nosso povo católico”.
Os textos são assinados por Dom Jaime Spengler (Arcebispo da Arquidiocese de Porto Alegre e Presidente da CNBB), Dom João Justino de Medeiros Silva (Arcebispo da Arquidiocese de Goiânia e 1º Vice-Presidente da CNBB), Dom Paulo Jackson Nóbrega (Arcebispo da Arquidiocese de Olinda e Recife e 2º Vice-Presidente da CNBB) e Dom Ricardo Hoepers (Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Brasília e Secretário-Geral da CNBB).
Fonte: Arquidiocese de Brasília
terça-feira, 16 de abril de 2024
Abril Vermelho começa com mais de 24 ocupações em 11 estados, diz MST
As ocupações de terra ocorreram em Sergipe, Pernambuco, São Paulo, Goiás, no Rio Grande do Norte, Paraná, Pará, Distrito Federal, Ceará, Rio de Janeiro e na Bahia. Foram selecionadas localidades estratégicas, como uma área da Embrapa em Petrolina (RJ) apontado pelo movimento como "improdutiva, ociosa e abandonada"; uma usina em Goiás que, segundo o movimento, acumula dívidas com a União; e uma área já comprovada como pública em Campinas (SP).
"As ocupações de terra enfatizam a importância da reforma agrária como alternativa urgente e necessária para a produção de alimentos saudáveis no Brasil", afirma a nota do movimento, destacando o objetivo de erradicar "a fome no campo e na cidade”. "Lutamos porque 105 mil famílias estão acampadas e exigimos que o governo federal cumpra o artigo 184 da Constituição Federal, desaproprie latifúndios improdutivos e democratize o acesso à terra".
Outras ações realizadas pelo MST incluem manifestações, como ocorreu em Sergipe; montagem de acampamentos como o Acampamento Pedagógico da Juventude Sem Terra, no Pará; assembleias como a Assembleia Popular no Maranhão e a continuidade da Marcha Estadual em Defesa da Reforma Agrária na Bahia, iniciada no dia 9 com objetivo de percorrer um percurso de mais de 110 quilômetros, de Feira de Santana a Salvador.
As iniciativas do MST acontecem dentro do contexto do Abril Vermelho, tradicional mês de lutas realizado anualmente pela organização. Em 2024, o lema escolhido para organizar o mês de atividades foi 'Ocupar para o Brasil alimentar'.
A escolha do momento decorre do 17 de abril, o Dia Internacional de Luta Camponesa. Nesta data, em 1996, foram assassinados 21 trabalhadores rurais assassinados pela polícia militar no Massacre de Eldorado do Carajás, no estado do Pará.
Novo programa do governo federal
A nota do MST destaca ainda o anúncio feito hoje pelo presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, do programa Terra da Gente, cujo objetivo é beneficiar 295 mil famílias agricultoras até 2026.
Para Ceres Hadich, da Coordenação Nacional do MST, o anúncio "vem ao encontro de duas grandes prioridades do governo Lula e ao cumprimento da função social da terra, que são o enfrentamento à fome e os cuidados com o meio ambiente".
Apesar dos elogios, a nota do MST também destaca pontos de descontentamento com a atual condução da política agrária. "Estamos em uma conjuntura em que o orçamento voltado para a obtenção de terra e direitos básicos no campo, como infraestrutura, crédito para produção, moradia, entre outros, é por dois anos consecutivos, o menor dos últimos 20 anos", afirma o movimento.
Edição: Thalita Pires
Fonte: Brasil de Fato
quarta-feira, 10 de abril de 2024
terça-feira, 9 de abril de 2024
Brasil deve dar resposta enérgica ao bilionário do “vamos dar golpe em quem quisermos”
“O Brasil deve aproveitar ataque de Musk à democracia para banir sua plataforma de apoio à extrema direita e estimular rede social brasileira”, diz Aquiles Lins
Em 24 de julho de 2020, o bilionário Elon Musk, dono da Tesla e da rede social X (antigo Twitter) mostrou os dentes contra a democracia de países latinoamericanos. Ao responder a uma provocação sobre interesse em derrubar o então presidente da Bolívia Evo Morales para ter acesso ao lítio boliviano, que abasteceria os carros da Tesla, Musk escreveu em sua conta no Twitter: “Vamos dar golpe em quem quisermos! Lide com isso”.
Quase quatro anos depois, o bilionário agora se volta contra o Brasil, com ataques diretos ao Poder Judiciário, especialmente contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). No domingo (7), Elon Musk pediu no X a renúncia ou impeachment do ministro Alexandre de Moraes. O bilionário afirmou que em breve o X iria divulgar como as exigências do ministro violam a legislação brasileira, acusando-o de trair a Constituição e o povo brasileiro. Desde sábado (6), Elon Musk tem criticado publicamente Alexandre de Moraes acusando-o de praticar censura nas redes sociais.
Em resposta, o ministro Alexandre de Moraes incluiu Elon Musk no inquérito sobre as milícias digitais antidemocráticas. Em sua determinação, Moraes enfatizou que as redes sociais não estão isentas da lei, ressaltando a importância de cumprir as determinações judiciais. Moraes ordenou uma investigação sobre a conduta de Musk por obstrução à justiça e incitação ao crime, e estabeleceu multas para a X caso perfis sejam reativados irregularmente. Além disso, o ministro do STF estabeleceu uma multa diária de R$ 100 mil para cada perfil da rede social que venha a ser desbloqueado, em descumprimento da decisão judicial. E frisou a possível punição aos responsáveis legais pela empresa no Brasil caso isso ocorra.
Apesar da decisão do ministro Alexandre de Moraes, Musk removeu restrições de perfis de aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro bloqueados pelo STF. Após a decisão, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos fez uma transmissão ao vivo para quase 10 mil usuários do X entre 22h e 23h deste domingo. O extremista é foragido da Justiça brasileira desde outubro de 2021 e hoje vive nos EUA.
Com seu histórico de apoio à extrema-direita e sob a puída e falsa veste da liberdade de expressão, Elon Musk agride a soberania brasileira e deve ter uma resposta firme e enérgica das instituições do país. Um bilionário não pode tentar desestabilizar o estado de direito brasileiro para beneficiar os interesses da extrema-direita, que atacam a democracia, disseminam fake news em escala monumental e minam a credibilidade do sistema democrático. Esta nova agressão da extrema-direita internacional torna o momento ainda mais propício para uma atuação conjunta do Judiciário, do Congresso Nacional e do Executivo, não só para coibir as agressões do X e de seu dono, mas principalmente para apoiar financeira e tecnologicamente o desenvolvimento de plataformas sociais brasileiras.
Fonte: Brasil 247
Linux Mint 22 pode acabar com a versão EDGE
Todo lançamento LTS do Ubuntu é empolgante não apenas pelo sistema da Canonical em si, mas pelas várias outras distros que se baseiam nele e também receberão uma grande atualização. O Linux Mint 22, codinome “Wilma”, será baseado no Ubuntu 24.04, ele já está em desenvolvimento e os desenvolvedores compartilharam algumas novidades incríveis que estão para chegar.
Otimização de espaço
O Linux Mint 22 terá uma pequena mudança no processo de instalação que certamente economizará algum armazenamento logo de início. Por padrão, a distro virá com oito idiomas disponíveis durante a instalação, inglês, alemão, espanhol, francês, russo, português, holandês e italiano, quem precisar de algum outro durante a instalação, deverá se conectar à internet para o instalador fazer o download.
Até então, após instalar o Linux Mint, o sistema mantinha os pacotes de todos os idiomas disponíveis offline. Agora, ele apagará tudo, exceto o escolhido pelo usuário durante a instalação e o inglês.
Linux Mint 22 será mais compatível com novas tecnologias
Quando alguém diz que o Linux Mint demora para aderir novas tecnologias, esta não é necessariamente uma impressão errada. O Linux Mint 22 troca finalmente o PulseAudio pelo PipeWire, um servidor de áudio mais leve e com menor latência, uma substituição que a maioria das outras distros Linux já fez.
O sistema ainda implementa um novo gerador de thumbnails para arquivos do GIMP, facilitando visualizar as criações antes de abri-las. Em termos de suporte a formatos arquivos de imagem, o Linux Mint 22 fica até na frente do Ubuntu 24.04, considerando que ele traz suporte nativo à visualização de JPEG XL pelo Pix.
Mas uma das maiores novidades do Linux Mint 22, é que agora os desenvolvedores buscarão acompanhar a atualização de kernel do Ubuntu 24.04, em vez de se manter na versão inicial. Até então, o Linux Mint tinha uma edição separada para isso, chamada EDGE, mas os desenvolvedores notaram que não houve diferença significativa na estabilidade entre o Linux Mint padrão da série 21 e o EDGE. Além disso, um crescente número de usuários com notebooks novos só estão conseguindo aproveitar bem o potencial do sistema utilizando versões mais recentes do kernel.
Seguindo seu próprio rumo
No GNOME 46, o Online Accounts foi portado para GTK4, ficando incompatível com aplicativos GTK3, ainda muito utilizado pelo Linux Mint. O recurso não apenas serve para manter o ambiente gráfico sincronizado com a nuvem, como também é importante para vários programas funcionarem corretamente.
Para resolver este problema, a equipe do Mint decidiu criar um fork, um Xapp chamado GNOME Online Account GTK, aberto para qualquer outra distro Linux ou ambiente gráfico que depende de GTK3, como o Budgie e o Unity.
Uma das novidades do Ubuntu 24.04 é que o Thunderbird que vem pré-instalado, passa a ser empacotado o formato Snap, mas como o pessoal do Mint não quer trazer o Snap por padrão no sistema e pretendem seguir com o Thunderbird, eles decidiram empacotar por conta própria a aplicação em .deb., formato como sempre trouxeram o aplicativo.
Nos últimos meses, o repositório do Mint tem sofrido com momentos de lentidão quando com alto tráfego, para mitigar o problema, estão buscando uma parceria com a companhia Fastly.
Outra grande novidade do Linux Mint 22, é o Jargonaut, a sua nova ferramenta de comunicação entre a comunidade de usuários e também o suporte do sistema operacional. Ele continua em construção, já fizeram o layout, um ícone, uma forma de visualizar imagens, a autenticação de usuário e mais outros detalhes necessários.
Fonte: Diolinux
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Usar Linux é difícil?
Muita gente pensa em Linux e já associa a hackers que fazem tudo utilizando apenas uma tela preta com letras verdes, conseguindo invadir sistemas. Nessa visão fantasiosa, pode parecer que no Linux é difícil fazer coisas simples como escrever um documento de texto, ou assistir um vídeo, mas isso está longe de ser verdade. Atualmente, o Linux pode ser tão fácil quanto ou até mais do que alternativas como o Windows. Mas de onde veio essa ideia de que o Linux é difícil?
Por que as pessoas pensam que usar Linux é difícil
O Linux tem uma história bem particular, seu núcleo veio das mãos de Linus Torvalds nos anos 90, com uma ideia diferente do que o mercado estava acostumado: fornecer softwares criados de maneira totalmente aberta. O código-fonte do Linux, que é o que os programadores escrevem para um software existir, é aberto para qualquer pessoa ler, entender e contribuir com sua melhoria. Empresas como a Microsoft guardam o código-fonte do Windows à sete chaves, como um segredo industrial.
Por ter o código-fonte aberto, publicado para todo mundo ver, usar e alterar, a venda do software fica inviável, afinal, qualquer um pode recriar a partir do código-fonte. Some isso à qualidade do Linux, por receber contribuições de diversas fontes, inclusive grandes empresas, como a Intel, IBM e AMD, participando financeiramente e com mão de obra. Com baixo custo e grande qualidade, rapidamente o Linux se tornou o padrão em servidores, sendo parte importante da infraestrutura da internet.
Criado originalmente para o uso doméstico, o investimento que recebeu especializou o Linux para uso empresarial, por especialistas em informática que entendem de linha de comando e aproveitam essa ferramenta para produzir softwares mais eficientes e escaláveis, embora não necessariamente fáceis para iniciantes e usuários comuns. Inclusive, essas características fazem a linha de comando popular até hoje.
Do outro lado, o Windows é mais antigo, ele foi criado desde o início pensando em ser fácil para usuários domésticos e evoluiu sempre tendo isso em mente, com muito investimento nesse sentido. Quando o Linux nasceu, o Windows já era utilizado pela maioria dos escritórios e casas que tinham um computador, as pessoas já estavam acostumadas como ele funciona.
Por muito tempo, os usuários e desenvolvedores Linux focaram na linha de comando, foi criado muito material sobre Linux se baseando nessa ferramenta, de modo que o sistema ficou conhecido pelo público geral como algo avançado, para quem entende o que as letras do terminal significam. Não dá para mudar a história e pode levar tempo para as pessoas mudarem a percepção sobre algo.
Por que hoje em dia o Linux é fácil?
Embora a história do Linux tenha contribuído para a fama de difícil, foi importante para construir um sistema muito sólido. Com essa base poderosa estabelecida, ainda nos anos 2000 diversas equipes começaram a trabalhar para criar interfaces gráficas mais amigáveis para o Linux, um dos sistemas Linux que liderou este movimento é o Ubuntu, que por muito tempo foi considerado a melhor opção para iniciantes em Linux.
A natureza aberta do Linux abre espaço para muita experimentação, algumas novas ideias de design de software são implementadas primeiro em sistemas Linux, depois aderidas por sistemas mais fechados como o Windows e macOS. Atualmente, existem sistemas Linux com interface muito trabalhada e polida, conseguindo ser modernas, bonitas e fáceis de usar.
Distros como Zorin OS e Linux Mint são feitas especialmente pensando em iniciantes, mas a maioria das distros tem o cuidado de permitirem o usuário comum fazer o que precisa sem recorrer à linha de comando. De toda maneira, o Linux é fundamentalmente diferente do Windows e do macOS, é inviável criar uma distro idêntica a algum desses sistemas, nem há realmente motivo para isso. Certas coisas mudam, dependendo do sistema operacional, novos usuários sempre precisarão da boa vontade de aprender.
No Windows, para novos programas, tem que baixar da internet e instalar, enquanto as distro Linux contam com lojas de aplicativos, as coisas mudam de lugar ou funcionam de forma diferente de um sistema para o outro. Mas talvez a maior barreira para o Linux seja instalar o sistema operacional. Enquanto muitos computadores já vem com o Windows, os que trazem o Linux geralmente não é uma boa versão.
Este conteúdo é baseado no episódio do Diocast onde conversamos sobre como foi nosso processo de migração para o Linux, com nossas principais dificuldades e várias dicas para você que quer migrar para Linux (ou qualquer outro sistema operacional) poder planejar seus passos com tranquilidade. Migrar para Linux pode ser uma ótima maneira de dar um novo fôlego ao seu computador, aumentar sua segurança e produtividade, ou simplesmente para experimentar algo novo. Mas com tantas opções disponíveis, pode ser difícil escolher por onde começar. Assista na íntegra!
Artigo do site: Diolinux
domingo, 7 de abril de 2024
O traço de Ziraldo deveria ser um símbolo nacional.
NUNCA HOUVE NO MUNDO UM ARTISTA GRÁFICO COMO ZIRALDO. Não estou exagerando: nunca houve! Em tempo algum. Até porque seria um reducionismo classificar o mais famoso filho de Caratinga – desculpem Ruy Castro, Miriam Leitão, Agnaldo Timóteo e Silvio Brito – apenas como “artista gráfico”.
O PAI DO MENINO MALUQUINHO abraçou os ofícios de editor, quadrinhista, chargista, locutor, jornalista, escritor, teatrólogo, publicitário, entrevistador, roteirista, jurado de televisão e ator. Sim, ator: procurem no Youtube “Esse mundo é meu” (1964), filme de Sérgio Ricardo, no qual nosso herói faz papel de padre. E ainda se gabava de cantar boleros com a competência de um Gregório Barrios. Ninguém foi tantos, nenhum foi muitos assim. Um showman, um dínamo, um azougue, como se dizia muito lá atrás (ele só não se entendia com a internet).
ISABEL LUSTOSA LEMBRA que apenas dois artistas poderiam se equiparar a ele na imprensa brasileira: Angelo Agostini, absoluto em jornais e revistas na segunda metade do século XIX, e J. Carlos, explosão criativa nos primeiros 50 anos do seguinte. O mineiro surgiu nessa época e esparramou seu talento daí por diante.
ZIRALDO CRIOU A PRIMEIRA série de quadrinhos do mundo a ter como protagonistas um menino negro com deficiência – o Saci – e um membro dos povos originários – Tininim. Era a Turma do Pererê, que mesmo publicado esparsamente nos últimos 65 anos, não tem comparação a altura. Com suas namoradas – Boneca de Pixe e Tuiuiú -, conviviam com a onça (Galileu), o macaco (Allan), o jabuti (Moacir), o tatu (Pedro Vieira) e um coelho estranhamente vermelho (Geraldinho) – tudo supervisionado por Mamãe Docelina. Os nomes vinham de amigos de infância. O gibi vendia como água, entre 1959-64. Saiu de circulação no mesmo mês do golpe.
O PERERÊ SINTETIZOU modos de vida da transição demográfica do Brasil rural para o urbano. O país que em 1930 tinha quase 80% da população distribuída esparsamente no campo passou a ter, três décadas depois, metade de sua gente habitando cidades do sul-sudeste, inchadas e carentes de infraestrutura e instituições que amparassem os fugitivos da fome e da miséria.
NAS PÁGINAS DO GIBI, isso é mostrado sem cacoetes acadêmicos, através de uma trupe em infindáveis peripécias num ponto incerto do “Brasil central”, defendendo seu modo de ser, sua floresta e até mesmo o direito de estar vivo num mundo que se transformava aceleradamente. Moacy Cirne destacou, em “A linguagem dos quadrinhos” que “poucas vezes, no quadro geral da literatura e arte brasileiras, uma obra refletiu com tanta agudeza crítica os problemas sociais de sua época”.
NO DESENHO, SUAS INFLUÊNCIAS MAIORES vieram da geração de cartunistas europeus surgidos no pós-Guerra – Sempè, Steinberg, André François e outros – e expoentes do modernismo brasileiro. “A partir de determinado tempo, passei a olhar mais os trabalhos de Portinari e Di Cavalcanti, com formas justapostas de efeitos gráficos muito originais”, me contou numa conversa em fins de 1990. Seus traços do começo dos anos 1970 revelam uma crescente preocupação formal, tendente ao geometrismo, que resultava em composições quase construtivistas
ZIRALDO FOI TAMBÉM O MAIS POPULAR autor de livros infantis brasileiros da atualidade. O seu “O menino maluquinho” (1979) já passa de 2,5 milhões de exemplares vendidos, tendo sido convertido para teatro e cinema, além de gerar uma série de outros produtos. Marcante foi sua atuação durante a ditadura (1964-1985), não só através dos trabalhos para a imprensa, mas também em colaboração com as campanhas da Anistia e das Diretas Já, bem como para inúmeras entidades populares. Deve entrar nessa conta, também, seu papel decisivo para o sucesso do “Pasquim”, a partir de 1969.
UMA AMIGA EM COMUM – Sonia Luyten – me sintetizou o significado afetivo de Ziraldo, depois de viver anos no Japão, num tempo em que não existia internet ou facilidades de comunicação instantânea. “Vi por acaso uns desenhos dele numa publicação e senti uma saudade imensa do Brasil. Aquilo para mim é um pedaço de nosso país”.
É ISSO MESMO. O traço de Ziraldo – agora um imortal sem nunca ter entrado na Academia – é um símbolo nacional. O Pererê bem poderia estar no centro de nossa bandeira.
Matéria publicada no Diário do Centro do Mundo