Agora, mais de 70 anos depois de morto, o líder religioso pode ser aceito pelo Vaticano, que graças ao papa Bento XVI tem discutido a reabilitação do padre. Seria o primeiro passo para uma canonização no futuro.
“Existe hoje uma compreensão no alto clero em Roma de que é impossível manter à margem da liturgia oficial milhões e milhões de pessoas que têm padre Cícero como santo, enquanto se assiste ao avanço das igrejas pentecostais”, diz ao iG o jornalista Lira Neto, autor da biografia Padre Cícero – Poder, Fé e Guerra no Sertão, lançado pela Companhia das Letras. “Arrisco dizer que a reabilitação é para breve”, opina.
O livro é resultado do acesso do jornalista a 900 cartas que integram o acervo da Cúria do Crato, cidade vizinha a Juazeiro, e a documentos do Vaticano até então restritos. Para o biógrafo, a iniciativa da Santa Sé tem motivação muito mais política do que religiosa. Em entrevista ao jornal "The New York Times", em março de 2005, o bispo do Crato, o italiano Fernando Panico – um dos principais defensores da reabilitação canônica de Cícero – vaticinou: “o padre Cícero é como um antivírus contra o avanço das seitas evangélicas”.
Milagre em Juazeiro
As romarias de Juazeiro podem inspirar multidões, mas o brasileiro em geral o desconhece. A reaproximação do Vaticano com a devoção popular e a pesquisa do jornalista ajudam a iluminar a polêmica trajetória religiosa e política de padre Cícero.
A fama e o ocaso dele no Vaticano começaram em 1889 quando Cícero, na época um jovem sacerdote, ofereceu a comunhão à beata Maria de Araújo. Segundo chegariam a jurar sobre a Bíblia as testemunhas ali presentes, a hóstia na boca mudou de forma e de cor. Transformou-se em sangue vivo. O episódio teria se repetido por meses a fio. De imediato, “milagre” passou a ser palavra corrente na região.
Padre Cícero
Segundo Lira Neto, a correspondência pessoal de padre Cícero e a documentação consultada mostram que ele jamais deixou de defender a tese do milagre. Os homens da Igreja, no entanto, não acreditaram nos relatos. Passaram a ver Cícero um mistificador, um explorador da ingenuidade popular. Daí o banimento: o líder religioso foi suspenso das atividades sacerdotais. Oficialmente fora da Igreja, Cícero se aliou a elites locais e nacionais e embarcou na política.
Apesar de não ser religioso e de relatar os episódios com certa ironia, Lira Neto não é taxativo sobre os milagres: “para mim permanece o enigma sobre o que aconteceu naquele momento entre a beata e o padre. Depois de vasculhar todos os documentos, posso de dizer que não há uma explicação razoável para o fenômeno”.
Com Lampião e contra Prestes
Outra polêmica envolvendo padre Cícero é a célebre oferta da patente de capitão ao cangaceiro Virgulino Ferreira, o Lampião. O livro mostra como o governo federal incentivou os líderes locais a cooptarem os cangaceiros para enfrentar a coluna Prestes – o movimento comandado por Luis Carlos Prestes, que no fim da década de 20 se deslocou pelo interior do país combatendo o então presidente Artur Bernardes e, posteriormente, Washington Luís.
A ideia, diz Lira Neto, não saiu de padre Cícero, mas foi gestada dentro do Ministério do Exército e do Palácio do Catete. Foi a habilidade ao fazer alianças que permitiu a Cícero manter sua liderança, mesmo proscrito pela Igreja.
Estava longe de ser um grande orador. Mas arrebatava e comovia multidões com a fala simples e cheia de referências próprias da fé sertaneja. O livro detalha como Cícero pregava contra as danças, o feitiço e a cachaça. Com apenas 1,60m, acabava pessoalmente com os folguedos e os sambas. (Ele achava que os batuques herdados dos negros deviam ter parte com Satanás.) Anunciava aos pecadores o fim dos tempos e a chegada iminente do Anticristo.
Fonte: ultimosegundo.com.br
Eu ouvi falar que o processo de canocização dele tá bem avançado já. Até por ele ser um santo popular já.
ResponderExcluirQuem sabe em breve teremos 2 santos brasileiros!
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