George Mattas, sua mulher Elianor e seus cinco filhos, alguns dos poucos milhares de cristãos que vivem em Gaza, sofreram para encontrar uma árvore de Natal este ano, em um território sob o bloqueio israelense e o controlado pelo movimento radical islâmico Hamas.
O chefe da família, de 46 anos, observa sua família enquanto instala os pisca-piscas, coloca mensagens e pequenos presentes na árvore artificial de dois metros de altura que colocaram no hall da casa, no bairro de Remal, no oeste de Gaza.
"Esperamos que este ano novo seja melhor que os anteriores e traga paz e prosperidade. Todos os aspectos da vida em Gaza se tornaram muito difíceis por causa do bloqueio imposto por Israel a Gaza há mais de três anos", afirma o cristão.
Desde a captura do soldado Gilad Shalit, em junho de 2006, por milicianos palestinos, o Estado judeu foi estreitando um cerco econômico que consiste em deixar entrar na faixa - onde vivem um milhão e meio de palestinos - somente os bens imprescindíveis para não provocar uma crise humanitária.
George também não está feliz com a situação de sua minoria religiosa em Gaza (3.500 pessoas) desde que o Hamas tomou o controle do território, em junho de 2007, após expulsar as forças ligadas à Autoridade Nacional Palestina (ANP) do presidente e líder do Fatah, Mahmoud Abbas.
"Até então éramos 5 mil cristãos, mas desde que o Hamas controla Gaza e a última guerra israelense de há quase um ano, muitas famílias cristãs mudaram da faixa para Cisjordânia, Europa ou Estados Unidos", conta Mattas.
A maioria dos palestinos católicos segue o rito greco-ortodoxo e, portanto, festeja a noite de 24 de dezembro e de 7 de janeiro, por seguir o calendário juliano, e não o gregoriano.
A família Mattas é, ao contrário, uma das poucas que celebrará o Natal na próxima quinta-feira, como a maioria dos cristãos do mundo, por seguirem a tradição romana.
Mattas gostaria de passar o Natal na cidade de Belém, no território palestino da Cisjordânia, separado geograficamente de Gaza por Israel.
Seu sonho depende, no entanto, das autoridades do Estado judeu, mas tem poucas chances de se tornar realidade, apesar de o ministro de Turismo israelense, Stas Misezhnikov, ter anunciado que concederá centenas de permissões para que os cristãos de Gaza possam passar o Natal em Belém, em contraste com a "crueldade desumana" do Hamas ao impedir a Cruz Vermelha de visitar Shalit por medo que seu paradeiro seja descoberto.
"Já não resta tempo. O Natal começa em três dias e não recebemos nem uma palavra da parte israelense sobre se nos darão uma permissão este ano. Se não formos a Belém, celebraremos o Natal em casa", se lamenta George.
Muitos cristãos da faixa afirmam que não haverá grandes festas de Natal e que limitarão a celebração a rezas na igreja e em casa se não chegarem as centenas de permissões de Israel, que só beneficiariam uma pequena parte dos 3.500 integrantes da comunidade.
Hazem al-Yelda, outro cristão de Gaza, não pode evitar lembrar os tempos em que costumava decorar uma árvore gigante de Natal no centro da cidade enquanto um Papai Noel dava presentes às pessoas pela rua.
Hoje a Prefeitura não pode pagar as tradicionais árvores e "Papai Noel vem com as mãos vazias".
"Em vez de bombons trouxe mudas de morango. Há muitas delas porque as que seriam destinadas à exportação para a Europa foram bloqueadas por Israel", conta al-Yelda.
Este ano, sua família também não decorará escolas e igrejas pelo nascimento de Jesus.
"O papel e as pinturas são escassos e não podemos pagar os poucos que encontramos no mercado", reconhece, enquanto planeja um Natal simples, com rezas e visitas.